terça-feira, 20 de agosto de 2013
Região desconhecida de Muitos
Eu conheço essa região, é muito linda!
Você talvez conheça...
Fonte: https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=PoBDPvu-X5k
Renata Pfau
quarta-feira, 12 de junho de 2013

É claro que a situação geral das espécies ameaçadas é responsabilidade dos "povos civilizados", mas não é por isso que devemos permitir que os últimos homens de uma determinada cultura tradicional acabem com os últimos animais (ou plantas) de uma espécie!

Um
muriqui (Brachyteles arachnoides) morto por um caiçara no Sertão do
Puruba, em Ubatuba (SP), após devidamente esfolado e esquartejado.
A foto acima é de um macho jovem de Muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides), um dos maiores primatas das Américas, endêmico da Mata Atlântica entre o Paraná e o Rio de Janeiro e considerado em perigo de extinção. Quando ainda vivo é um bicho simpático como os gorilas que atraem milhares de turistas a partes da África aonde ninguém iria por outra razão.
A população planetária dessa espécie ameaçada é estimada em menos de 2 mil indivíduos, ou menos do que o número de pessoas no quarteirão onde vivo. Esta é mais uma daquelas espécies com maturidade sexual tardia, intervalo entre partos de vários anos e demografia sensível que é facilmente extinta pela caça.
Muriquis são muito raros na Serra do Mar paulista. Quem tentou achá-los sabe. As horas gastas e o custo gasto em munição teriam rendido mais carne se o insigne representante de uma comunidade tradicional tivesse ido catar latas nas praias próximas para vender. Como meu amigo Paulo Auricchio escreveu sobre este caso a motivação para estas caçadas tem mais a ver com o prestígio de matar um animal raro e protegido, e assim dar uma banana à fiscalização ambiental (sempre impopular), associada a uma cultura onde matar animais como primatas é uma atividade aceitável.
Filhote não é presente
"A única forma daquele macaquinho estar na mão de alguém foi matando sua mãe e, muito provavelmente, outros membros do grupo"
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Esse caso me lembra quem “curte” as fotos de sorridentes crianças índias e caboclas segurando um macaquinho, como essa, feita no município de São Paulo ou faz a sua segurando um bichinho em uma dessas excursões “de natureza” por aí. A única forma daquele macaquinho estar na mão de alguém foi matando sua mãe e, muito provavelmente, outros membros do grupo. Em minha modesta opinião isso não é “curtível”´, mas tão odioso quanto o costume de europeus medievais e renascentistas de ter um indiozinho ou negrinho em casa para servir de tópico de conversação.
O abate de Muriquis por populações caiçaras, caboclas e guaranis é coisa do passado? Afinal, estamos no século 21, quem vivia de roça, pesca e caça hoje tem uma pousada ou emprego com carteira assinada e as novas gerações parecem mais interessadas em videogames, Facebook e surf do que em longas horas no mato atrás de animais para matar. Mas é bem mais complicado que isso.
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Filhote de Muriqui dado como presente. Foto: Fabio Olmos
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A palmeira juçara, a fonte do palmito, é uma espécie-chave para as comunidades de aves e mamíferos frugívoros. Sua extração e consequente extinção ecológica reverberam por todo o ecossistema, coisa que os adeptos do “manejo sustentado” (incluindo a coleta de frutos para polpa) não enfatizam muito.
Nem todo mundo deixou a economia extrativista e destruidora. Isso é reflexo do enorme mercado consumidor de palmito que não se importa com a origem do mesmo (isto daria uma campanha de conscientização muito mais útil que distribuir sacolinhas para guardar lixo nas praias), do afrouxamento das penalidades sobre caça e extração ilegal após a infeliz lei ambiental de 1998, e de uma fiscalização e serviço de inteligência inadequados para lidar com os bandidos à solta no mato e seus colegas em escritórios.
A situação em São Paulo deve piorar com a anunciada demissão dos vigias volantes que até a pouco faziam a fiscalização nos parques estaduais, perspectiva que está tirando o sono dos gestores e mostra a involução de São Paulo em comparação a Minas Gerais e Rio de Janeiro (onde a pouco foram contratadas duas centenas de guardas-parque via concurso).
Poucos podem fazer grande estrago
Há muitas atividades e formas de ocupação compatíveis com a conservação da biodiversidade e serviços ambientais em uma Unidade de Conservação, mas caça e extrativismo de espécies ameaçadas não estão entre elas e basta uma dezena de pessoas para causar muito estrago.
Não faltam estudos sobre defaunação e seus impactos, e a Mata Atlântica, em particular, sofreu muito com isso e está longe de seu potencial pleno em parâmetros como biomassa e densidade de vertebrados. Um programa de pesquisa sobre o assunto cujos resultados deveriam nortear políticas públicas é conduzido há anos pelo grupo de Mauro Galetti, da Universidade Estadual Paulista.
A história do Muriqui cuja mãe foi morta pelos índios de Itariri recorda que uma das maiores, mas menos divulgadas, ameaças às Unidades de Conservação (e sua fauna) na Mata Atlântica paulista é a invasão das mesmas por grupos indígenas, alguns imigrantes recentes, que têm o “direito” de caçar e extrair sem que fiscais e policiais ousem tocá-los, causando um enorme estrago, como observei no Parque Estadual Intervales. É um problema complicado, sujeito a forte patrulha ideológica e do qual a maioria dos políticos quer distância. Mas que cresce, como mostra a proposta de privatizar 4.957 hectares do Parque Estadual da Serra do Mar em Ubatuba para criar uma nova terra indígena, publicada pela FUNAI em abril passado.
As histórias destes dois falecidos Muriquis mostra que proteger espécies ameaçadas implica em limitar o que as pessoas podem fazer e retirar a pressão sobre suas populações, o que pode acontecer quando novas atividades econômicas substituem as tradicionais. Há ideias que fazem esta transição necessária, como o projeto Fortaleza do Palmito Juçara dos índios guarani da TI Rio Silveira mostram o caminho e devem ser incentivadas, mas também que mudanças culturais podem só acontecer em situações-limite e que nem todos abraçam a ideia. Enquanto isso, os bichos pagam o pato.
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Autor deste blog, Fabio Olmos é biólogo e doutor em zoologia. Tem um pendor pela ornitologia e gosto pela relação entre ecologia, economia e antropologia. Seu último livro, sobre ecossistemas brasileiros e conservação, é Espécies e Ecossistemas. |
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FONTE:
http://www.oeco.org.br/olhar-naturalista/27262-uma-historia-de-dois-muriquis
domingo, 2 de junho de 2013
O canibalismo comunista da Veja
Postado por Juremir Machado da Silva, em 24 de maio de 2013, no Correio do Povo
Praticamente nenhuma pessoa séria leva a revista Veja a sério. Sabe-se que é uma publicação humorística. Faz um humor meio sem graça, apelativo, rasteiro, como é o humor dominante na mídia brasileira atual. Mas há um traço de original nesse humor: ele é ideológico.
Nesta semana, porém, Veja caprichou no ridículo. O texto “Os ossos do socialismo” é uma obra-prima de charlatanismo, de reacionarismo delirante e de besteirol histórico. Segundo o repórter, que assina a matéria, há uma relação direta entre canibalismo e comunismo. Em 1609, os primeiros colonos ingleses instalados em Jamestown, na América, loucos de fome, comeram os seus semelhantes.
Arqueólogos descobriram os ossos de Jane, vítima do canibalismo dos seus parceiros de aventura no Novo Mundo. A revista Veja não tem a menor dúvida: “Jane foi devorada por seus pares como consequência do fracasso do modelo de produção coletiva implantado nos primeiros anos da colonização dos Estados Unidos. A propriedade era comunitária, e o fruto do trabalho era dividido igualmente entre todos. Era, portanto, uma experiência que antecipava os princípios básicos do comunismo. Deu no que deu”.
Uau! A cadeia estabelecida é imperativa: o coletivismo levou à preguiça, que levou à improdutividade, que levou à fome, que levou ao canibalismo. A saída viria com a propriedade privada. É reportagem para prêmio Esso de estupidez. Longe de mim defender o comunismo. O buraco é mais embaixo. Vejamos.
O autor tem a segurança dos tolos encantados com o lugar que ocupam na escala social: “Se não fosse o sistema fracassado, a situação dificilmente teria chegado a esse ponto”.
Todos os demais aspectos de adaptação e de conjuntura são desconsiderados. O reducionismo ideológico surge como uma iluminação. A solução chega com um novo administrador, que impõe à propriedade privada: “A decisão despertou os traços hoje bem conhecidos do capitalismo americano: o empreendedorismo e a aptidão para a competição”. Disso teria decorrido que, em 1775, os americanos “já eram mais altos que os ingleses”.
Tem gente batendo os dentes nos consultórios de dentista, onde Veja é campeã de leitura, de tanto rir. É um riso nervoso.
Nem os primatas do Pânico fariam melhor.
Para a pragmática revista Veja, no coletivismo, entre trabalhar e comer seus semelhantes, as pessoas escolhem a segunda opção. Um colono comeu a esposa grávida. Veja, enfim, descobriu a origem da expressão “comunista comedor de criancinha”.
Na verdade, encontrou algo mais grave, o comunista comedor de feto. Sem contar que Duda Teixeira chegou ao elo perdido, a origem sempre procurada do capitalismo, o estalo: “Foi essa mudança, nascida do trauma de um inverno em que colonos caíram na selvageria que permitiu aos Estados Unidos se tornar o maior gerador de riqueza do planeta e o berço do capitalismo moderno”. O capitalismo nada mais é que uma reação ao canibalismo comunista. Agora é científico.
Não fosse grosseiro, eu diria: é a coisa mais idiota que li.
24 de maio de 2013 http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/?p=4274
Postado por Juremir Machado da Silva, em 24 de maio de 2013, no Correio do Povo
Praticamente nenhuma pessoa séria leva a revista Veja a sério. Sabe-se que é uma publicação humorística. Faz um humor meio sem graça, apelativo, rasteiro, como é o humor dominante na mídia brasileira atual. Mas há um traço de original nesse humor: ele é ideológico.
Nesta semana, porém, Veja caprichou no ridículo. O texto “Os ossos do socialismo” é uma obra-prima de charlatanismo, de reacionarismo delirante e de besteirol histórico. Segundo o repórter, que assina a matéria, há uma relação direta entre canibalismo e comunismo. Em 1609, os primeiros colonos ingleses instalados em Jamestown, na América, loucos de fome, comeram os seus semelhantes.
Arqueólogos descobriram os ossos de Jane, vítima do canibalismo dos seus parceiros de aventura no Novo Mundo. A revista Veja não tem a menor dúvida: “Jane foi devorada por seus pares como consequência do fracasso do modelo de produção coletiva implantado nos primeiros anos da colonização dos Estados Unidos. A propriedade era comunitária, e o fruto do trabalho era dividido igualmente entre todos. Era, portanto, uma experiência que antecipava os princípios básicos do comunismo. Deu no que deu”.
Uau! A cadeia estabelecida é imperativa: o coletivismo levou à preguiça, que levou à improdutividade, que levou à fome, que levou ao canibalismo. A saída viria com a propriedade privada. É reportagem para prêmio Esso de estupidez. Longe de mim defender o comunismo. O buraco é mais embaixo. Vejamos.
O autor tem a segurança dos tolos encantados com o lugar que ocupam na escala social: “Se não fosse o sistema fracassado, a situação dificilmente teria chegado a esse ponto”.
Todos os demais aspectos de adaptação e de conjuntura são desconsiderados. O reducionismo ideológico surge como uma iluminação. A solução chega com um novo administrador, que impõe à propriedade privada: “A decisão despertou os traços hoje bem conhecidos do capitalismo americano: o empreendedorismo e a aptidão para a competição”. Disso teria decorrido que, em 1775, os americanos “já eram mais altos que os ingleses”.
Tem gente batendo os dentes nos consultórios de dentista, onde Veja é campeã de leitura, de tanto rir. É um riso nervoso.
Nem os primatas do Pânico fariam melhor.
Para a pragmática revista Veja, no coletivismo, entre trabalhar e comer seus semelhantes, as pessoas escolhem a segunda opção. Um colono comeu a esposa grávida. Veja, enfim, descobriu a origem da expressão “comunista comedor de criancinha”.
Na verdade, encontrou algo mais grave, o comunista comedor de feto. Sem contar que Duda Teixeira chegou ao elo perdido, a origem sempre procurada do capitalismo, o estalo: “Foi essa mudança, nascida do trauma de um inverno em que colonos caíram na selvageria que permitiu aos Estados Unidos se tornar o maior gerador de riqueza do planeta e o berço do capitalismo moderno”. O capitalismo nada mais é que uma reação ao canibalismo comunista. Agora é científico.
Não fosse grosseiro, eu diria: é a coisa mais idiota que li.
24 de maio de 2013 http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/?p=4274
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