quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Queimadas nos campos de cima da serra, RS

A questão das queimadas é polêmica. É claro que elas são prejudiciais ao ambiente, mas há práticas muito piores.

Nos primeiros anos de sua criação, a SEMA, com o apoio da Patram, autuou inúmeros proprietários do Campos de Cima da Serra, gerando uma animosidade ainda maior daquela população com os órgãos ambientais.

Em novembro de 2001, quando estava na vice-direção do DEFAP, realizou-se em São Chico uma reunião convocada pela Comissão de Agricultura e Pecuária da AL. Dos órgaos de governo convidados (Agricultura, MP, Casa Civil, Comando da BM), ninguém apareceu. Participei da mesma com a colega Fátima Pereira, da DLF, e só escapamos de ações mais violentas por parte das centenas de proprietários rurais enfurecidos pela intervenção - quem diria! - do falecido deputado federal Julio Redecker, do PSDB, presente no ato.
Tempos depois, atuando no Ibama, residi por três anos em Cambará do Sul, e convivendo com proprietários rurais vizinhos ao Parna Aparados da Serra, comecei a ter outra visão da realidade local.

Na ocasião, vi que um proprietário com cerca de 300 ha de campos pedregosos com criação extensiva tem renda menor que muitas famílias urbanas de classe média baixa. Desse modo, uma multa de R$ 50 mil pela queima de 50 ha o jogava na insolvência. Muitos, endividados, terminaram arrendando ou vendendo seus campos para o plantio de pinus (na época ainda não haviam restrições à atividade) e, em menor escala, batata e alho, observando que essas atividades são infinitamente mais perniciosas ambientalmente que a queima controlada de campo. Pude verificar isso diretamente em uma área ao norte do cânion da Fortaleza, da qual os pinus foram retirados em 2002 em função da desapropriação pelo Ibama. Em 2006, a regeneração da vegetação natural nessa área ainda era quase nula, provávelmente pela camada de acículas que permaneceu no solo. Já as culturas de alho e batata, geralmente em áreas arrendadas durante 3 anos a catarinenses, utilizam uma quantidade absurda de agrotóxicos com as consequências que todos conhecem.
Bueno, e o que fazer então? Primeiro, não adianta simplesmente proibir a queima na região dos Campos de Cima da Serra. sem dar alternativas econômicamente viáveis . Não adianta dizer que as soluções existem se elas não puderem ser levadas de forma viável ao produtor, com participação mas ativa da extensão rural e criação de linhas de crédito subsidiadas, associadas com um forte trabalho de educação ambiental. Falta tudo isso.
Resumindo, antes de tudo, é necessário integrar mais as ações entre SEMA, Secretaria da Agricultura, EMATER e organismos oficiais de crédito. Infelizmente isso nunca aconteceu na prática, nem mesmo no governo Olívio, que realmente colocou a questão ambiental como uma das prioridades, o que não ocorre hoje.

Renzo Bassanetti
Geógrafo

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